Nos últimos dias as mídias
ferveram com notícias sobre a intolerância racial.
Enquanto uma “torcedora” chamava
de macaco o goleiro do time rival, um casal sofria ofensas em uma rede social –
Facebook -, simplesmente por serem um branco e uma negra.
A maioria sabe que chamar alguém
de macaco é racismo, mas poucos sabem o porquê dessa palavra ter essa
conotação. A história explica! Pra isso li e reli muitos artigos e acabei
achando esse aqui (http://culti-e-popi.blogspot.com.br/2014/03/porque-comparar-negros-macacos-nao-e.html),
separei um trecho pra contextualizar melhor para vocês.
“A teoria de Lamarck – junta a
várias outras teorias similares – foram vitais para a elaboração do racismo
cientifico. Bradley novamente nos explica que ao fazer parecer que “os
não-europeus seriam mais macacos do quê humanos, essas diferentes teorias foram
usadas para justificar a escravidão nas Américas e o colonialismo no resto do
mundo”. – E esta foi a maneira que os Europeus se diferenciaram não só
biologicamente mas também “culturalmente”, mantendo sua superioridade sobre os
outros povos.”
Bom, resolvi trazer esse assunto
para estampar nosso post de Sexta, depois de receber uma mensagem, onde uma mãe
contava sobre as diversas vezes em que seus filhos, negros, foram expostos ao
pré-conceito. Pra que vocês possam entender melhor, decidi postar - com a autorização dela - a mensagem que recebi.
“Sou Luciene, tenho 29 anos,
casada com um negro e mãe de dois filhos negros.
Sempre ouvi piadinhas de péssimo
gosto quando éramos ainda namorados. E não, isso não acabou com o tempo. Quando
engravidei do meu primeiro filho – que hoje tem nove anos – ouvi muitas pessoas
– até mesmo da família – dizer que eu rezasse para que ele “puxasse” o meu
nariz. Ou que eu tive muita sorte por
ele ser um menino, assim ele não precisaria de um cabelo liso, era só manter o
corte baixinho. Quando ele nasceu,
diziam “ó, acho que ele não vai ficar tão escurinho!”, em tom de alívio. Eram
coisas de dar nojo!
Nada disso nunca tinha me
afetado, até um dia em que meu filho chegou da escola, chorando e dizendo que
queria ser branco, assim como eu. Meu Deus, mas meu filho é um moreno lindo!
Foi ai que eu descobri o motivo
do pedido. Falavam do pai dele, que ele iria ser tão negro quanto o pai. Então,
expliquei com muito carinho que Deus fez as pessoas diferentes mesmo, e que
todos eram especiais. E ele começou a aceitar a sua cor.
Mas, não parou por ai...
Engravidei pela segunda vez,
dessa vez de uma menina. As piadas prontas vieram. “Vai ter que levar
pranchinha para a maternidade, o cabelo deve vir bem ruim!”. Meu Deus, como
assim? Minha filha sequer nasceu e estão preocupados com o cabelo dela?
Hoje a Sarah tem dois anos e dez
meses, escuto com grande freqüência coisas do tipo: “Tadinha, vai prender esse
cabelo!”. “Você não vê a hora dela crescer para alisar esse cabelo, não é?”.
“Olha, tem que relaxar o cabelo dessa criança, hein?”.
São tantas coisas idiotas que
acho que vivo em outro mundo. O pré-conceito vem de todos os lados. Estamos
mesmo no século XXI?
Fico imaginando a fase da escola,
o que será que vou viver dessa vez?”
Filhos da Lu |
Quando eu terminei de ler a
mensagem da Lu, fiquei sem reação. Como as pessoas podem fazer comentários
assim, ainda mais a uma criança, que provavelmente não entenderá e muito menos
saberá se defender.
Comentei na fanpage a ideia do
post, que seria abordar esse preconceito desenfreado e desumano, logo
apareceram outras mães gritando suas angústias. E não eram mães de negros, apenas.
O pré-conceito reflete em todas as cores. Algumas mulheres contaram casos em
que elas foram alvos da discriminação. Como a Leonarda, que foi questionada se
seria babá do seu próprio filho, já que eles não tinham a mesma cor.
Filho da Leonarda |
E não foi só ela que passou por esse tipo de
constrangimento a Tirza, mãe do Luca, contou pra gente uma historia parecida.
“Estava com o meu filho e os meus
pais em uma loja, meu pai precisava de alguns equipamentos e meu filho de
pilhas para colocar em alguns brinquedos. Entreguei meu filho a minha mãe e pedi
uma chave de fenda para a atendente da loja, para abrir o compartimento das
pilhas no brinquedo, e como eu sabia que tinha algumas peças pequenas e soltas
dentro, não quis deixar a atendente abrir, até porque eu conseguiria fazer o
serviço. Nesse momento – não sei se por raiva de não ter deixado que ela
fizesse o trabalho ou por ignorância mesmo – ela me pergunta: “Tá cuidando
tanto assim por ser a babá dele, não é?”“. Respondi que não, que era a mãe dele
e que aqueles eram meus pais, logo, avós do Luca. Devolvi a chave de fendas,
agradeci e disse não precisar mais das
pilhas, preferir comprar em outra loja.
O Luca parece muito com o pai
dele, assim como também acho que lembre bastante o meu pai. Quem não conhece o
Jairo pode até acreditar que ele seja filho do meu pai. Mas, mesmo assim, me
revolta até hoje a falta de sensibilidade daquela mulher.”
Tirza e o seu filho |
É absurdo que um país como o
nosso, carregado de diferentes raças, cor, credo(...), ainda tenha essa postura
preconceituosa.
Acho que o nosso problema é bem
mais social -não só étnico -. Existe preconceito contra vários outros grupos,
como os gordos, magros, gays, loiras e por ai vai. Vivemos a imposição da
estética perfeita, da roupa do momento, da religião certa, do corpo sarado...
Não se pode respeitar a diferença?
Não precisamos viver a ditadura
da beleza, do cabelo liso ou loiro, ou estar vestindo determinada roupa pra ser
aceita pela sociedade. De nada adianta seguir tendências da moda, se por dentro
o que te nutre são os seus ideais sujos e feios.
Comparar um negro a um macaco,
visando igualar ele a um animal, no pior sentido da palavra, não torna você
superior a nada. Como também discriminar alguém por ser branco demais. Ou pior,
proibir o contato de uma criança com outra, por essa ser portadora de alguma
deficiência – física ou mental -. Tudo isso é um ato preconceituoso e
descabido.
Como mãe, tenho várias missões - meus ideais - criar meus filhos abertos ao diferente, a aceitar e abraçar o novo.
Em casa, por exemplo, Maria é
dona de madeixas cacheadas, enquanto eu tenho cabelos lisos. Todos nós temos
fios pretos, enquanto a cabeleira dela ostenta fios dourados. As “brincadeiras”
que questionavam o motivo do cabelo de Maria ser mais claro eram muitas – e são
até hoje -, e eu sempre levei na esportiva com respostas como: “Ainda bem que é
a cara do pai, se não era capaz de me pedirem exame de DNA!”.
Ensinei a Maria que ela era ainda
mais especial por sua diferença, é como se ela tivesse sido escolhida para se
destacar entre nós. Marcelo sempre exalta os cachinhos dela, dizendo como os
adora e pedindo sempre que ela os mantenha.
Eu por exemplo, detestei por muitos
anos o fato de ter uma boca grande, traço genético que herdei tanto do meu avô
materno, que era negro, como do meu pai, que também é negro. Levei muitos
apelidos por essa característica, mas logo a Jolie – atriz Angelina Jolie -
apareceu e muitas mulheres pagaram por bocas como a minha. Mas a dela não - apesar de ser grande - era exagerada, só a minha.
Foi só então que eu percebi que
somos belos pelo que somos. Cada traço nosso tem uma história por traz
dele, a nossa genética estampa em nós os que nos antecederam. E por isso,
tem um valor imensurável. Em vez de enxergar minha boca como algo imenso,
passei a perceber o sorriso largo que eu tenho e que estrutura de forma única o
meu rosto. Esse era meu diferencial.
O grande problema do
preconceito, é a falta de conhecimento.
Temos
que aprender a respeitar e valorizar o próximo, as outras culturas e até a nós
mesmos, a nossa história num todo.
Nós pais somos os maiores
influenciadores dos nossos filhos, o exemplo parte da gente. As crianças são
observadoras e tendem a nos imitar em ações. Então, é primordial que o exemplo
do respeito parta de casa.
Ensinaremos aos nossos filhos,
que as palavras têm um poder enorme e quando são usadas de forma errada, podem machucar as pessoas - e alguns não cicatrizam mais -. Ensinar a eles a respeitar a diversidade, é criar um filho
despido de preconceito e pronto para o mundo, com um ângulo positivo e cheio de
amor.
Ruim mesmo é o teu preconceito!
Respeito as diferenças e amo esse país miscigenado.
So tive tempo de ler agora! Ficou lindo!! Uma abordagem sincera e cheia de conhecimento (eu nao sabia o pq do pobre macaco ter sido escolhido) . Parabéns Lari!
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