29/09/2014

Por falar em saudade...




Cheguei ao trabalho já tagarelando, sempre chego contando minhas histórias. Enquanto minha colega de trabalho tomava seu café da manhã, eu contava um pouco da minha família. Falei sobre o tanto de gente que morava na mesma casa quando eu era criança, e de como meu avô abraçava essa mundaréu todo.

Cessamos o papo, trabalhei um pouco e como de costume, peguei minha agenda para anotar algumas coisas. Olhei fixamente para a data e pensei: Falta um mês para Maria “nascer” de Novo – tem post sobre isso amanhã -, e me vi com saudades.
Mas era uma saudade diferente, uma necessidade de alguém. Fiquei tentando entender meus sentimentos diante dessa data. E ai lembrei... Era dia dele. Hoje seu Eider -o vovô Braga - faria 83 anos de vida.

Quando constatei isso, entendi porque meu coração ficou nesse impasse. Que falta danada o negão faz.

Tem festa no céu! E dentro de mim chovem lembranças.
Ele era um homem festeiro, no final de semana tinha cheiro de Uísque, rs. Provavelmente hoje iríamos estar todos reunidos, comendo bolo com ele.

Vaidoso, andava com uma escovinha no bolso, para pentear seus poucos cabelos, que jamais desalinhavam. Seu desodorante tinha a mesma fragrância do seu perfume, Musk.
Acordava cedo, sentava em sua cadeira de balanço, toda feita de uma espécie de palha, com uma almofadinha no assento, agarravas-se no controle remoto e dominava a TV, era fiel a Globo, rs.
Seu café da manhã sempre tinha uma fruta, talvez uma mamão, um melão... Que ele mesmo limpava e cortava sentadinho a mesa, como num ritual diário. Lembro que ele pegava uma laranja pêra e dizia que a transformaria numa tangerina, cortava ela em quatro bagos e nos fazia acreditar em mágica.

O natal. Como ele amava as festas de final de ano. Reunia os netos para montar a árvore de natal, tradição da qual ele nunca abriu mão. No dia 24 ele organizava a ceia, cortava todos os pães, arrumava a tábua de frios – brigando comigo pelas azeitonas roubadas -, e queria todos lá. No ano novo, vestia sua camisa de botões branca, sua bermuda e sua sandália de couro, que logo depois deu vez a um tênis estilo futsal e uns meiões que iam além de sua canela, rs.

Quando a sua diabetes apertou, ele foi proibido de um tanto de coisas. Mas, tal qual a uma criança, roubava doces, rs. Tinha conta clandestina na padaria e comprava nosso silêncio com coxinhas, rs.
Sua dose de uísque que deveria ser única, era interminável, ganhava vez ou outra uma pingada a mais, que ele garantia ser fruto do gelo que derretia.

Uma de suas maiores paixões era o Sport Club do Recife, seu time de coração. Era louco por futebol, e se fosse futebol com cerveja, pronto. Tava feito o Combo do amor, rs.

Lembro do último dia dos pais em que ele estava conosco, eu tinha 13 anos. Pesquisei uma receita na internet, um doce que ele pudesse comer, encontrei uma musse de limão e preparei para ele. Devorou tudo, achando uma delícia. Resolvi provar e... que horror! Não sei se ele elogiou pra agradar, ou se seu lado formiga falou mais alto, rs.

- Estou com um nó na garganta e já nem controlo mais meu olho ensopado –

Na sua última semana de vida, ele já não tinha tanta consciência. No último domingo ele tomou seu banho, se arrumou todo e pediu que o colocassem no sofá, era dia de visitas. Nesse dia choveu muito e nem todo mundo conseguiu chegar lá. Ele voltou para o quarto, e essa foi sua última noite em casa.

Antes de ir à escola passei para vê-lo, conversei e pedi que ele agüentasse até os meus 15 anos, eu queria dançar a valsa com ele – Não tive festa de 15 anos, não fiz questão. Como seria sem ele? Não dava! -. Recebi uma afirmativa como resposta. Não vi mais meu avô. Quando voltei do Colégio encontrei minha mãe desesperada, limpando o quarto ensopado de sangue. Ele tinha sido socorrido e estava indo ao hospital. De lá ele não saiu mais vivo. Lembro bem de esse ter sido o pior dia da minha vida. Nessa noite eu dormi na cama dele, com a almofada dele, sentindo o cheirinho de musk, o cheirinho dele.

Sobrevivemos. Mas até hoje somos metade saudade.

Sinto tanto por ele não ter vivido mais, ele amava tanto essa vida. Mas quem pode ir contra as vontades que vem do céu?
Queria o aval dele sobre o meu casamento com um rubro-negro, mas que usa brincos, rs. Queria presenciar ele como bisavô dos meus rebentos. Escutar os tantos palavrões que ele soltava quando a bola batia na grade. Ou simplesmente, sentar lá fora com ele, chupando uma laranja mágica.
Guardo com carinho todas as nossas lembranças, e assim o sinto vivo dentro de mim.

Quando Maria nasceu, rezei e pedi que algum anjo dissesse a ele que ela havia chegado. Era a sua primeira bisneta. Sei que do céu ele nos mandou as melhores e maiores energias do mundo.

Termino esse post segurando meu choro, que já não é de tristeza e sim de saudade. Sei que ele vive em cada um de nossa família, enquanto tornamos firmes os laços que seu Eider sempre fez questão de fortalecer.

Vô, no céu não devem permitir uma dose de Uísque, então imagino o quanto o senhor deve ter resmungado. Mas é dia de festa, é teu dia. Que seu espírito seja luz! Amo você, sempre e pra sempre.

Em vocês um beijo e desculpe esse post carregado, eu precisava gritar essa ausência.



2 comentários:

  1. Lindas lembranças, me emocionei....Beijos

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  2. Ai ai, vc me fez chorar Lai... Seu Braga, me lembro bem da sua voz forte, seu jeito manda chuva e brincalhão... Impossível não amar <3 Saudades muita.

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Eu, a Maria e o José, vamos adorar um recadinho.

 
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